Fim de semana em Barcelona - Parte 2

Casa Milá 


A estrada entre Sitges e Barcelona era em pista dupla, estreita e na beira do penhasco. Lembrava alguns trechos do circuito de Fórmula 1 do GP de Mônaco. O dia estava ensolarado e a vista do Mar Mediterrâneo era de tirar o fôlego de tão linda. Chegamos em Barcelona quase no final da manhã e fomos para o centro da cidade. Procurávamos um lugar para estacionar o carro quando percebemos que os estacionamentos naquela região onde estávamos ficavam no subsolo. Entramos em um deles, numa das vias principais e, de lá, fizemos os passeios a pé.



Primeira parada: Casa Milá ou Lá Pedreira

 Projeto do arquiteto catalão Antonio Gaudí, é  um prédio com uma arquitetura bem diferente, todo ondulado. Apesar de ser atração turística, ainda é um condomínio residencial e um dos apartamentos é aberto à visitação. Pelo que lembro, esse apartamento era em formato circular e decorado com móveis antigos, do início do século XX, tudo muito bonito e bem preservado. De lá, subimos até o terraço do prédio que era cheio de esculturas com formatos estranhos (alguns pareciam merengues gigantes) e com uma vista bem bacana de Barcelona. A visita terminou quando descemos até o pátio interno que, na minha opinião, parecia o interior de um tronco de árvore, mas bem iluminado pela luz do dia.

Vista de Barcelona do terraço da Casa Milá


Segunda parada: Igreja da Sagrada Família

A construção dessa igreja começou no final do século XIX e continua em obras até os dias de hoje. Durante os primeiros quarenta anos, Antonio Gaudí foi o arquiteto responsável, reformulou o projeto e incluiu seu estilo muito particular de trabalho (orgânico, inspirado na natureza) nos elementos arquitetônicos da igreja. Após seu falecimento, os arquitetos que assumiram as obras da Sagrada Família procuraram seguir as diretrizes deixadas por Gaudí, mas ainda assim, incluíram elementos contemporâneos na construção do templo (vide as esculturas em diferentes partes da igreja).  Nessa época, em 2002, apenas a Fachada da Natividade (que tem as torres mais altas)  estava pronta e quando eu e minha amiga entramos para ver o interior da igreja, encontramos um canteiro de obras imenso, não tinha altar e nem telhado. Miguel e a minha tia estavam esperando por nós na praça logo em frente para seguirmos o passeio.


A Igreja da Sagrada Família em 2002


Terceira parada: Plaça de Catalunya

Essa praça é uma das mais importantes e fica no centro de Barcelonac, cheia de lojas e restaurantes no entorno. Foi caminhando pelas ruas estreitas daquela região que começamos a procurar hospedagem. Havia vários hostels (ou hostals) naquelas redondezas, mas a maioria estava lotada. Precisávamos de acomodações para cinco pessoas, pois fiquei sabendo que um chileno, também colega do Miguel e da minha tia, voaria de Madrid aquela noite para nos encontrar em Barcelona. Até achamos vagas em um, mas as instalações não agradaram. O que achei mais curioso é que esses hostels eram apartamentos antigos, em prédios igualmente antigos, que foram reformados e transformados em acomodação para turistas. Alguns nem tinham placas, ou qualquer indicação que fosse um hostal. A gente tocava a campainha e só quando abriam a porta é que dava para ver que não era uma residência. Foi então que o Miguel sugeriu que nós procurássemos o Hotel Formule 1(que virou Ibis Budget). Disse que um amigo dele recomendou, que o hotel era bom e blá-blá-blá...Bom, naquela altura do campeonato, achando uma hospedagem para o fim de semana já estaria ótimo. Ainda não existiam smartphones e aplicativos de reserva de hotéis, senão nosso problema estaria resolvido com alguns toques.


Um pouco mais tarde, Miguel recebeu uma ligação de celular (que então era só para isso mesmo) do Carlos, colega chileno, dizendo que estava decolando de Madrid dali a poucos minutos (e era só uma hora de voo). Resolvemos então pegar o carro e seguir para o Aeroporto El Prat e aí começou um drama: ninguém lembrava onde era o estacionamento e todas as ruas pareciam iguais. Miguel, então, resolveu ligar seu "achômetro" e por um tempão ficamos andando de um lado para o outro no centro de Barcelona procurando a bendita entrada do estacionamento. Eu e a Patríca já estávamos cansadas, com os pés doendo, morrendo de calor e já desanimando,  quando finalmente encontramos o estacionamento e o carro. Como não existia Waze nem Google Maps naquela época, não sei qual trajeto nosso motorista fez. Só sei que nos embananamos e nos perdemos no meio do caminho para o aeroporto e, quando caiu a ficha, estávamos andando em círculos. Finalmente, assim que encontramos nosso destino, fazia uma hora que o  moço do Chile estava nos esperando do lado de fora do desembarque.

Do aeroporto fomos procurar o tal Hotel Formule 1. Também não sei para que lado fomos, só lembro que já tínhamos saído do centro de Barcelona quando encontramos o dito cujo. O preço por quarto para até três pessoas era de  25 Euros por noite e café da manhã opcional (não lembro quanto, mas era baratinho). Fizemos o check-in e pagamento adiantado, pegamos nossa bagagem e subimos para o quarto. Quando lá chegamos, uma surpresa: o quarto não tinha banheiro privativo, tinha só uma pia. Aliás, foi a primeira de algumas bizarrices que encontrei em quartos de hotel na Europa.

Nem precisei olhar para a minha tia para saber que ela estava aborrecidíssima. Já tínhamos desistido de outras acomodações no centro de Barcelona justamente porque não tinham banheiro privativo. Frescuras à parte, o fato é que nós, brasileiros, no geral estamos acostumados à  uma certa exclusividade e conforto, sobretudo quando viajamos. E isso inclui ter banheiros privativos nos hotéis onde nos hospedamos. Com exceção dos hostels, é raro encontrar por aqui hospedagens com banheiro compartilhado.

Nosso quarto do Hotel Formule 1


Mais tarde, lá no Hotel Formule 1, descobrimos que os chuveiros e privadas ficavam em cabines separadas: só privada ou só chuveiro. Cada cabine tinha um sinal luminoso verde e vermelho acima da porta, que mostrava se a mesma estava ocupada ou livre. Na cabine do chuveiro, o dito cujo era regulado com temporizador, que nem nos banheiros de shopping center. Você apertava o botão do misturador e a ducha funcionava  por alguns segundos. Se precisasse de mais água, tinha que apertar de novo e de novo. Confesso que achei bem estranho sair corredor afora carregando toalha, roupas e artigos de toilette. E menos mau que não cruzamos com nenhum outro hóspede. Enfim, era o que tínhamos, o jeito foi encarar e sobreviver à experiência.

Depois de conhecer nossas acomodações, deixamos as bagagens no hotel e saímos para jantar. Fomos então para o região do Porto Velho de Barcelona. Já devia ser quase onze da noite, pois estava escuro. Durante o verão, os dias são longos no hemisfério norte, escurecendo por volta das dez da noite. Fizemos uma parada para conhecer o  Maremagnum, um shopping à beira-mar com uma arquitetura bem moderna e, até diria, futurista. Durante o dia era um shopping center como os outros, mas de noite funcionavam várias baladas no piso superior. Percebi que a vida noturna era bem agitada por lá, sempre que passávamos na frente de alguma balada, tinha um pessoal que ficava na porta e nos convidava (ou quase nos puxava) para entrar.

Saindo do Maremagnum, atravessamos a avenida, passando em frente ao Monumento a Cristovão Colombo e subimos um trecho da La Rambla até quase o centro de Barcelona. La Rambla é uma avenida que liga a Plaza de Cataluña até o Porto velho de Barcelona. Possui um calçadão no meio e nas laterais ficam as vias por onde passam os carros. É o lugar onde se concentram várias lojas, cafés, e restaurantes. Vi também vários artistas de rua fazendo suas performances, seja dançarinos, músicos, estátuas vivas e até gente declamando poesia. Nessa noite e mesmo sendo altas horas, o calçadão estava apinhado de gente, tanto sóbria como ébria. Foi então que o cansaço bateu (o dia foi cheio de voltas e reviravoltas), descemos La Rambla em direção ao Porto Velho e Maremagnum, entramos no carro e voltamos para o hotel. Dessa vez, pelo menos, o Miguel não se perdeu no caminho.


Ainda continua no proximo post...

Leia também:

Fim de semana em Barcelona - Parte 1


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